segunda-feira, 27 de novembro de 2023

A música de papai

 Hoje sonhei que estava em minha antiga casa sozinho, enchendo de água uma garrafa dessas térmicas, planejando sair para correr em um dia nublado. Depois que saí, dei-me conta de que havia esquecido algo que agora não lembro mais. Quando voltei em casa, não estava mais sozinho: estavam Paola, minha irmã, Wallace e Rafael, um amigo que quase morava conosco e outro que morava de fato, e meu pai, todos num clima meio tenso, procurando algo que houvera sumido. Apesar do ambiente, eu passei pelo pessoal carregando meio jeito aéreo de ser, pensando em pegar logo aquilo viera buscar e partir logo, a tempo de aproveitar a chuva que cairia a qualquer momento e que acabaria num momento qualquer.

Na cozinha, onde o rádio sempre ficava ligado, meu pai vestia seu casaco de couro marrom que usava em dias frios. Quando me viu, perguntou algo que não me lembro, mas que tinha relação com o que todos estavam procurando. Naquele momento, tocava uma música que só existiu no sonho. Era um sucesso popular dançante, desses que o povo canta décor, com uma letra forte sobre o amor que se sente por alguém. Por um motivo que não me fez o menor sentido naquela hora, abracei papai e cantei com ele, mexendo de um lado para o outro, numa alegria que só aquela música poderia expressar. Depois olhei para ele e disse que iria correr para aproveitar a chuva e acordei.

Hoje faz um ano que papai se foi, mas sonhar com ele assim desse jeito me faz sentir que partir, de fato, ele nunca irá. Pensar sobre isso me faz sentir quase a mesma alegria que sentia enquanto ouvia aquela música. 

Eu sou uma pessoa cética logo, para mim, o mundo em que vivemos e os momentos nele são aquilo o que mais tem valor. Sonhar com papai hoje, ainda mais nessas condições, fez-me sentir um pouco do mundo mais rico dos crentes. É como se papai tivesse vindo me visitar e saber como estou. Fico muito feliz por tê-lo abraçado e cantado em seu ouvido uma música que só nós conhecemos.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Partes

 Nós somos duas partes incompletas

Que buscam nada mais do que continuar incompletas

Acho que por isso nos damos tão bem

E aproveitamos também. 

Essa coisa gostosa que é gostar

Que é se apaixonar. 

Viver duas semanas como uma vida 

Para continuar após a partida. 

Até onde rolar?

Até onde rolar

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Você é toda gostosa

O suor que escorre de nossos corpos, 

Que, em seus longos cachos, se impreguina, 

Os gemidos que emergem de sua boca, 

Reagindo quando, do seu pescoço, a minha se aproxima, 

E a vontade de minha cintura, 

Que se move você a dentro sem se importar muito onde termina, 

É uma parte do nosso sexo,

Apesar do modo como fascina.


O desejo dos corpos, 

Esses que acendem e se colam no mero encontrar, 

Que decidem já bem o que querem

Antes mesmo da gente chegar a se cumprimentar, 

Só outra parte do nosso sexo. 

Apenas outra coisa protocolar.

O sexo mesmo está em nossas conversas,

Na nossa troca de olhar.

Nas fotos, nas músicas,

Nos momentos em que transo com sua forma de pensar

E claro,

Nos que ouço o seu jeito apaixonado de falar.


Sexo é bom, meu bem,

Mas gostoso mesmo é te comer por inteira.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Um eco rouco

Você, meu companheiro dessa luta eterna entre entre o bem individual e o bem coletivo, encontra aqui nesse blog uma das poucas trincheiras, onde eu procuro compartilhar minha revolta contra nosso inimigo, a saber: esse terrível sistema sujo e manipulador que se chama Capitalismo.
 Nosso inimigo é grande, bem articulado e possui infinitos recursos. Porém nós, apesar de poucos, possuímos algo mais forte e poderoso: o nosso sangue vermelho e imortal.